Economia
Governo reinstala Conselho Nacional de Economia Solidária
O governo federal reinstalou, nesta quarta-feira (18), o Conselho Nacional de Economia Solidária, após cinco anos de atividades paralisadas. Uma das metas do colegiado é organizar a quarta conferência nacional e trabalhar em um marco regulatório do setor, com ações de fortalecimento da economia solidária.
Para a conselheira Francisca da Silva, representante de Minas Gerais, os empreendimentos de economia popular e solidária precisam ser beneficiados com menos tributos. Segundo ela, o setor pode se desenvolver tão bem quanto o mercado formal, com o diferencial da “valorização do ser humano”.
“Nós somos registrados como microempresa, tem outro que foi registrado como MEI [microempreendedor individual] para ficar no mercado, porque senão a gente não vive, nós precisamos de [capacidade de emitir] nota fiscal. Mas o Simples Nacional ainda é muito ruim pra gente. E aqueles que não podem formalizar? E aqueles que não conseguem? As cooperativas estão muito caras”, disse durante o evento de reinstalação do conselho, em Brasília.
O Simples Nacional é o nome dado ao sistema de tributação simplificada criado em 1996 para facilitar o recolhimento de contribuições das microempresas e empresas de pequeno porte.
Francisca cobrou ainda um posicionamento político do governo sobre o setor. “A gente fala de empreendedorismo solidário, de cooperativismo solidário, mas eu quero ouvir o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] falar lá de economia solidária”, disse.
Ela contou sobre o encontro que teve com o presidente Lula, em que ele falou sobre a busca de recursos para o setor. “Eu falei: não presidente, eu quero é lei. Nós queremos é uma diretriz. Recurso passa, programa passa, lei não. Por mais capenga que ela fique, ela está ali”, destacou.
A economia solidária expressa um modo de organização da produção, comercialização, finanças e consumo de produtos e serviços que privilegia a autogestão e a cooperação em empreendimentos coletivos, redes e cadeias solidárias articuladas. Ela é centrada na valorização da colaboração e do ser humano e não do capital, visando relações mais justas do ponto de vista social e sustentáveis pelo lado econômico e ambiental.
São exemplos de empreendimentos de economia solidária as cooperativas de reciclagem, grupos de agricultura familiar, empresas cooperativas de crédito, coletivos ecológicos e pequenos e médios produtores de alimentos orgânicos.
“Nós sobrevivemos e fomos nos formando para essa economia solidária, em que não vamos no Sine [Sistema Nacional de Emprego] e nem nas portas das empresas procurar emprego, e, no entanto, estamos aquecendo a economia do país com nossos produtos, serviços e saberes”, destacou a conselheira Francisca da Silva.
Atividades
A Secretaria Nacional de Economia Popular e Solidária (Senaes), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foi criada em 2003, no primeiro mandato do presidente Lula, a partir da atuação do economista e professor Paul Singer, falecido em 2018, que inseriu a pauta da economia solidária no contexto governamental.
O Conselho Nacional de Economia Solidária, que não se reúne desde 2018, é composto por representantes do governo, das iniciativas econômicos solidários, das organizações da sociedade civil e dos serviços sociais, totalizando 56 membros. O atual secretário da Senaes e presidente do conselho é Gilberto Carvalho, ex-ministro do governo de Dilma Rousseff.
Ele vai comandar a reunião de dois dias do conselho, hoje e amanhã, para apresentação do balanço da Senaes e planejamento para os próximos anos, discussão dos preparativos para a 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária, calendário dos próximos encontros e encaminhamentos.
A conferência deve ocorrer até junho de 2024.
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, participou do evento de reinstalação do conselho e defendeu a necessidade de parceria com o Congresso Nacional para fortalecimento da economia solidária, tanto com propostas legislativas para o setor quanto na destinação de emendas parlamentares para projetos locais.
“As emendas parlamentares diminuem muito a capacidade do Executivo no planejamento do orçamento, de determinar o orçamento maior, mais robusto para essa ou aquela área, inclusive para a economia solidária. Portanto, temos que construir relações e a partir das emendas parlamentares fazer e elevar o nosso orçamento. É plenamente possível, não depende só da equipe do Gilberto e da equipe do Gilberto aqui na secretaria, depende muitas vezes de cada um de vocês, lá no território, no seu estado, de procurar construir uma relação que possa exigir, como direito absoluto da economia solidária, participar mais do orçamento da República, do estado, do município”, disse.
O ministro destacou que o governo tem compromisso com um marco legal para o setor, mas reafirmou o papel e a participação do Parlamento nessa discussão.
Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 6.606/2019 que cria a Política Nacional de Economia Solidária (PNES) e o Sistema Nacional de Economia Solidária (Sinaes), além de regulamentar empreendimentos desse tipo.
A proposta já passou pelo Senado e aguarda análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara para depois seguir para votação no plenário da Casa.
“A nossa missão não era simplesmente que a empresa que eventualmente estivesse falindo fosse reconstruída em uma cooperativada, estimular o nascimento de cooperativas solidárias ou que pudéssemos, a partir da economia solidária, criar oportunidades. Nós temos que pensar grande, quando o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] for falar do PIB [Produto Interno Bruto], dizer que a economia solidária representa x por cento da economia nacional. Portanto, não é o debate do coitado, da coitada, nós queremos participar ativamente da construção da riqueza nacional do Brasil. Esse é o lugar da economia solidária”, afirmou Luiz Marinho.
Chica da Silva
Em seu discurso, a conselheira Francisca da Silva, conhecida como Chica da Silva, destacou a importância da economia solidária para resgatar mulheres vítimas de violência doméstica. Ela contou como sobreviveu a um casamento violento e como conquistou sua independência financeira.
“Eu vou falar de mim, porque falar de mim eu falo de tudo. Uma mulher negra, dez anos de cárcere privado, 88 pontos no rosto, 15 perfurações de dentadas no seio esquerdo, dois abortos obrigatórios, um natimorto, três filhas, sobrevivi fazendo conserva com aquilo que iria para o lixo e que os sacolões me davam”, disse ela, contando ainda que, assim como as filhas, conquistou o ensino superior.
“Igual a Chica tem várias Chicas por aí, porque a violência contra mulher ela cresce a cada momento. Mas sobrevivemos nos juntando na economia solidária para gerar renda”, disse.
Em Minas Gerais, Francisca atua em um empreendimento de mulheres chamado Buffet Amigos de Chica, na área de alimentação.
Economia
Anatel quer aumentar monitoramento de ligações indesejadas
As prestadoras de telefonia móvel e fixa terão que enviar mensalmente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) os relatórios referentes a chamadas recebidas, incluindo aquelas com indícios de alteração indevida de código de acesso (spoofing) nos números de telefones. Esta técnica é usada por criminosos para falsificar o número de telefone de uma ligação.
Os relatórios devem ser encaminhados pelo sistema Coleta de Dados Anatel, implementado em janeiro deste ano. O objetivo do sistema que recebe dados de originadores de chamadas indesejadas é permitir que a Anatel proteja o consumidor mais rapidamente de possíveis golpes por chamadas telefônicas.
Segundo a Anatel, o envio dos dados faz parte de um conjunto de medidas regulatórias de enfrentamento às ligações indesejadas já estabelecidas pelo órgão, com o objetivo de reduzir o incômodo aos usuários de serviços de telecomunicações no Brasil e evitar fraudes por telefone. Como resultado, houve a redução de 184,9 bilhões dessas chamadas, entre junho de 2022 e dezembro de 2024, em todo o país.
Relatórios
Pela determinação, as entidades do setor de telecomunicações devem enviar os relatórios todo dia 15 de cada mês ao sistema que coleta dados para a Agência.
A estimativa é que as informações permitam que a Anatel monitore sistematicamente a origem de ligações irregulares, constate as irregularidades e acompanhe o cumprimento das medidas cautelares já expedidas, como a suspensão de usuários ou de empresas que cometem fraudes ou abusos.
A Anatel estabelece às prestadoras de telefonia móvel e fixa que, ao receberem as chamadas indesejadas irregulares, notifiquem as prestadoras de origem da ligação indesejada.
Além disso, as empresas receptoras das chamadas devem informar à Anatel dados como: data, horário das ligações, identificação das prestadoras de origem das chamadas indesejadas; data em que as infrações foram cometidas; proporções de chamadas com números falsos em relação ao total de chamadas recebidas e, quando for o caso, os tipos e prazo de suspensão de serviços.
A medida prevê que os envolvidos nas origens dessas chamadas irregulares sejam multados e até suspensos. As empresas de telefonia móvel e fixa que descumprirem as regras estão sujeitas a multas de até R$ 50 milhões.
Quando os originadores das chamadas estiverem relacionados a golpes ou fraudes envolvendo uso de nome de instituição financeira, as informações serão enviadas às autoridades de segurança pública.
Economia
Setor de máquinas de construção tem alta de 22,2% nas vendas em 2024
As vendas no atacado do setor de máquinas de construção cresceram 22,4% em 2024 ao fechar o ano com 37.148 unidades comercializadas. Esse foi o segundo melhor período do segmento, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que projeta alta de 3% nas vendas para o ano de 2025. Área engloba tratores de esteira, retroescavadeiras, pás carregadeiras, escavadeiras hidráulicas, motoniveladoras, rolos compactadores, mini carregadeiras e manipuladores telescópicos.
De acordo com o balanço da entidade, o crescimento de vendas de máquinas, teve participação nas vendas, com aumento de 37% para 42%, puxado pela construção civil. As exportações caíram 12,5%, com 4.538 unidades. A expectativa para 2025 é que se mantenha o volume.
O setor de máquinas agrícolas teve queda de 20% nas vendas com relação a 2023, ao chegar nas 48,9 mil unidades comercializadas no atacado. A queda foi puxada principalmente pelas colheitadeiras. As exportações de máquinas agrícolas tiveram queda de 31%, com envios de 6 mil unidades, e deverão crescer apenas 1% pelas projeções da entidade.
Importações
Segundo a Anfavea, atenção no momento está voltada para as importações, já que se crescimento acentuado dobrou o déficit na balança comercial em 2024, com mais de 55% das máquinas importadas vindo da China e 26% da Índia. A participação da China na importação de máquinas nas Américas dobrou em 2024 de 20,7% para 43% em de construção e de 7,7% para 12,7% em agrícolas.
“Nos causa grande preocupação o aumento da participação das máquinas importadas nas compras públicas, com destaque para as empresas com menos de 20 empregados. Estamos levando ao poder público essa questão que prejudica o nível de emprego no Brasil, a competitividade das nossas empresas, a inovação e até o atendimento dos clientes, que no final do processo sofrem com falta de uma rede confiável para assistência técnica. O resumo é que todos no país saem perdendo”, avaliou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.
Economia
Concessão da BR-381 em Minas Gerais prevê R$ 9,3 bi em investimentos
A 4UM Investimentos vai destinar R$ 9,3 bilhões para melhorias na Rodovia BR-381 em Minas Gerais, entre Governador Valadares e Belo Horizonte, um trecho de 303,4 quilômetros. Após três leilões frustrados, o grupo investidor venceu o certame organizado pelo Ministério dos Transportes, em agosto do ano passado, depois de a proposta ser reestruturada.
O contrato de concessão foi assinado, nesta quarta-feira (22), em cerimônia no Palácio do Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo vencedor criou a Concessionária Nova 381, que administrará e responderá pela operação e manutenção da BR-381 em Minas Gerais.
Em discurso, Lula lembrou que o governo federal faz as concessões de rodovias sem receber outorga (pagamento) das empresas vencedoras, o que barateia o preço dos pedágios e ajuda na atração de investimentos.
“Quando a gente quer fazer parceria com o empresário, a gente quer fazer uma estrada, fazer melhor possível, mas o empresário precisa ganhar, se não ele não faz um investimento. E é preciso que a gente estabeleça essa regra”, disse. “O objetivo nosso é baratear o preço do pedágio para as pessoas mais pobres, sem deixar de priorizar a qualidade do trabalho que vai ser feito”, acrescentou o presidente.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, explicou que, entre outras adequações, também foram retirados do projeto de concessão da rodovia dois lotes próximos a Belo Horizonte, que ficarão a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Os investimentos do governo federal nessas obras públicas serão de R$ 1 bilhão.
Presidente Lula participa da cerimônia de assinatura do contrato de concessão de um trecho da BR-381, em Minas Gerais – José Cruz/Agência Brasil
“Nós corrigimos o projeto, melhoramos a atratividade, mitigamos riscos geológicos, riscos de engenharia que atrapalhavam a atratividade [para a iniciativa privada], levamos a leilão depois de o governo passado ter tentado várias vezes levar e conseguimos fazer a concessão”, destacou.
“O Brasil, hoje, ele construiu um modelo muito mais sustentável [ de concessões]. Além disso, a própria rentabilidade do contrato também precisa ser diferenciada; as obras mais simples têm que pagar ao investidor privado um retorno menor do que as obras mais complicadas”, acrescentou Renan Filho.
Críticas
A ausência do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, no evento também foi lembrada pelos ministros que discursaram e pelo próprio Lula. De acordo com o presidente, as obras da BR-381 fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento, cujo portfólio foi montado com as indicações dos governadores dos estados.
“Pelo menos isso deveria agradecer, mas ele fez uma crítica profunda desnecessária”, disse Lula sobre a recente crítica que Zema fez sobre as condições do programa de pagamento da dívida dos estados com a União.
“Esse acordo das dívidas de Minas Gerais, dos estados como um todo, o governador de Minas Gerais deveria vir aqui me trazer um prêmio, me trazer um troféu do primeiro presidente da República que ele tem conhecimento que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador de nenhum prefeito por ser contra ou por ser oposição”, afirmou o presidente. “O que nós fizemos para os estados que não pagavam a dívida talvez só Jesus Cristo fizesse se ele concorresse à Presidência da República desse país”, acrescentou Lula.
Cerimônia de assinatura do contrato de concessão de um trecho da BR-381, em Minas Gerais – José Cruz/Agência Brasil
A rodovia
De acordo com o Ministério dos Transportes, essa porção mineira da BR-381 é uma das estradas federais com o maior registro de acidentes do país, um trecho sinuoso, pistas simples na maioria do percurso, que serpenteia os morros do leste de Minas Gerais, cortando o Vale do Aço. Dados da Polícia Rodoviária Federal indicam que, entre 2018 e 2023, houve 3.960 ocorrências de trânsito no trecho; 420 pessoas perderam a vida na rodovia.
A estrada mineira foi a leilão em 29 de agosto de 2024, tendo como critério a proposta com a menor tarifa de pedágio. Caberá à nova concessionária aplicar os recursos previstos para serviços operacionais e obras estruturantes, como duplicação, correção de traçado e criação de pistas de escape, além da manutenção da estrada ao longo dos próximos 30 anos.
A Concessionária Nova 381, criada pelo grupo investidor, ainda oferecerá um pedágio gratuito no primeiro ano e, em seguida, desconto para usuários frequentes e a opção de pagamento automático para motoristas. Usuários frequentes são aqueles que percorrem trechos da rodovia diversas vezes por mês, como no caso de pessoas que residem e trabalham em cidades próximas.
O trecho abrange 13 cidades às margens da estrada e outras que dependem indiretamente dela, resultando em um tráfego médio de 24,7 mil veículos ao dia.
A BR-381, construída na década de 1960, se inicia em São Mateus (ES) e chega até a cidade de São Paulo, um importante corredor logístico para o escoamento de produtos industriais.
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